Vivemos em uma era marcada pela hiperconectividade.
O uso constante de smartphones, redes sociais e plataformas digitais alterou profundamente nossa relação com o tempo, a atenção e o próprio pensamento.
Pesquisas da Stanford University mostram que pessoas que praticam multitarefas digitais com frequência apresentam menor controle cognitivo e maior dispersão mental, quando comparadas àquelas que realizam uma tarefa por vez (Ophir, Nass & Wagner, 2009).
A American Psychological Association (2022) reforça que essa alternância contínua entre estímulos digitais eleva os níveis de cortisol, hormônio do estresse, e compromete a eficiência cognitiva, gerando sensação de fadiga mental mesmo em atividades simples.
No Brasil, estudos também indicam que o uso excessivo de tecnologias digitais está diretamente relacionado ao aumento da ansiedade, da sobrecarga cognitiva e da sensação de esgotamento.
Segundo pesquisa de Silva e Cardoso (2021), realizada com estudantes universitários, a hiperexposição a telas e notificações contínuas compromete o desempenho acadêmico e a regulação emocional.
Esses achados sugerem que a mente contemporânea, submetida a um fluxo ininterrupto de estímulos, tende a operar em estado de alerta constante, reduzindo sua capacidade de concentração e recuperação mental.
Esse fenômeno se manifesta de maneira sutil, porém profunda, nos hábitos cotidianos: assistir a vídeos em velocidade 2x, ouvir podcasts acelerados, responder mensagens em segundos e ler e-mails às pressas tornaram-se práticas comuns.
Embora pareçam estratégias de produtividade, essas ações reforçam um padrão de funcionamento mental baseado na pressa e na gratificação imediata.
Estudos recentes da Stanford University (2021) demonstram que o consumo de conteúdo acelerado reduz em cerca de 40% a capacidade de formar memórias de longo prazo, pois o cérebro necessita de tempo e pausas para consolidar o aprendizado.
Como alerta Byung-Chul Han (2017) em A Sociedade do Cansaço, vivemos numa era do desempenho e da autoexploração, na qual o excesso de estímulos e a aceleração constante produzem não apenas fadiga física, mas também esgotamento psíquico.
O resultado é uma mente fragmentada, habituada à velocidade, mas incapaz de se aprofundar.
Retomar a capacidade de atenção plena e o ritmo humano das experiências tornou-se, portanto, um dos grandes desafios da saúde mental contemporânea.
A pergunta que fica é: Vamos respeitar a nossa biologia, ou continuar tentando “hackear” um sistema que não foi feito para viver em modo 2x?
Referências bibliográficas
SILVA, M. A.; CARDOSO, R. S. Uso de tecnologias digitais e sobrecarga cognitiva em estudantes universitários. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 41, n. 1, p. 1–15, 2021.
AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION. Digital Media Use and Mental Health: APA Report 2022. Washington, DC: APA, 2022.
HAN, Byung-Chul. A Sociedade do Cansaço. Petrópolis: Vozes, 2017.
OPHIR, E.; NASS, C.; WAGNER, A. D. Cognitive control in media multitaskers. Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 106, n. 37, p. 15583–15587, 2009.

